quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Gota a Gota

As pedrinhas jogadas no balde fazem a água transbordar e cair na terra seca. A semente já foi jogada. Logo nascerá. Os frutos podres fazem o ar ficar mal cheiroso e afasta tudo que há de bom no entorno do balde. Os urubus rondam o ambiente, atraídos pelo odor. Os galhos fétidos da maldita erva trepam no balde e lhe escondem a luz e o calor do sol. Esfriam a água. Pequenas gotas de chuvas temporárias tentam manter o nível da água. Mas logo novas pedras são jogadas e a erva ganha nova força e novos frutos. Os espinhos duros e enferrujados espetam sem dó. Pequenos furos começam a se desenhar na superfície do balde. A ferrugem deixa o recipiente doente. Novas chuvas até tentam alimentar a erva buscando manter a vida do pobre balde. Em vão. Volta a trabalhar jardineiro. Pega a tua enchada e teu rastelo. Arranca a erva. Tira as pedras de dentro do balde. Deixa as núvens de inverno encherem o balde. Deixa o sol do verão aquecer a água. Deixa as coisas boas voltarem pra perto do balde. Mas se nada disso tiveres coragem de fazer... tira o balde do teu jardim. Não deixa ele se despedaçar. Prefira a saudade aos meros vestígios.

sábado, 12 de dezembro de 2009

Quando a hora da volta se fez eterna

Três dias e meio de tensão. As atividades obrigatórias e conversas paralelas já não eram cumpridas nem tentadoras. O fluxo de pensamentos me levava a cavernas escuras e molhadas. O ar era pesado e cheirava a morfo. Me entupia as narinas. O sangue não chegava às extremidades de meu corpo e encharcava apenas meus órgãos vitais.
A tua falta de resposta à minha pergunta perturbadora e inesperada me retirava deste tempo. Era como uma camisa de força frouxa que me prendia em seu tecido branco com bolinhas azuis. Não sabia o que fazia com meus braços. Eu já não tinha mais a tua mão para atravessar a rua. Meu corpo, a boiar numa piscina de plático, não via espaço para braçadas desesperadas em busca de um canto seco com gosto de areia.
A hora marcada para a conversa naquele primeiro bar de uma história se aproximava. Um ônibus errado e uma carona de um antigo amigo me levaram ao local marcado. Teus quarenta minutos de atraso e os cigarros fumados que enchiam o cinzeiro apertavam meus pulmões e contraiam meus músculos contra meus ossos. Era como se minha carne se rasgasse como tecido velho. Sentia minhocas perfurando minhas veias como em terra molhada.
Achei que aquela seria tua resposta. A tua não presença me deixava triste, mas ainda tinha algum dinheiro para pagar mais algumas cervejas e eu estava disposto a te esperar até aquele bar se fechar. Pensava em tudo que tínhamos vivido e como te fiz sofrer ao negar a minha presença ao teu lado. Ouvia o vento chaqualhar as folhas da mangueira e descompassadas gotas anunciando uma chuva próxima. Solidão.
O telefone a tocar indicava a tua chegada. Teu rosto sorridente e tenso me fazia misturar meu alívio e apreensão numa sensação que desconhecia e difícil de ser explicada. Mas estava feliz por estar ali contigo.
A falta de diálogos inesperados me descontrolava e já pensava em te dizer como parafusos são engraçados e interessantes quando olhamos atentos para eles. O teu início de resposta me pedia para explicar o que nem eu entendia direito. Minha boca pronunciava palavras sem filtro, cheias de verdades, algumas descobertas naquele momento.
Os segundos de espera pareciam longas horas gastas em um livro chato de final feliz. Um "eu te amo" foi o bastante para segurar em tua mão e perceber teus olhos que sopravam dúvidas confiantes num recomeço de um tempo sem fim.
Eu sorria descontroladamente por uma pequena abertura de lábios. Era como se as flores penduradas no varal desabrochassem para os raios de sol escondidos por densas nuvens mal cheirosas. Percebia, naquele momento, que te amava de uma forma que não acreditava que fosse possivel. Fazer, novamente, parte de tua vida após suicídios em outros corpos era confortante. Te desejava como há muito tempo e queria te ter ainda naquela noite. Deitei em tua cama e acordei com teu sorriso.