quinta-feira, 12 de março de 2009

A preguiça é circunstancial

A falta do que fazer é algo, realmente, muito chato. Os dias parecem nunca acabar, ainda mais quando se é acordado às oito horas da madrugada com gritos e portas batendo por toda a casa. Fico a pensar, ainda deitado, por que diabos meus pais não entendem que oito horas da manhã é hora de se estar dormindo? Mas desisti de convencê-los disso. Sempre saio como o preguiçoso da família. Aquele que nunca vai crescer na vida por excesso de preguiça. Dá pra acreditar?
No último mês descobri um inferno de um jogo que me viciou e que só me deixa dormir depois das 00:30h, no mínimo. Eu tento deixar aquele vício, mas o vício é mais forte que eu e então me dou por vencido. Desligo o computador depois de tantas tentativas frustradas e tento dormir. Mas quem disse que consigo? Já deitado, lembro do outro vício. O cigarro. Levanto. Ando pela casa em direção à varanda como se estivesse andando sobre ovos para não acordar minha mãe. Ela não fecha a porta do quarto porque diz que tem medo de ladrões arrombarem a casa e levar tudo. Vê se pode? Ela só pode ser doida. Se um ladrão entrar na minha casa eu quero estar com a porta do meu quarto bem, mas muito bem, trancada. Será que minha mãe pensa que é a Mulher Maravilha? Mas como ia dizendo antes de ser pego pelas lembranças das peripécias de minha mãe... fumo meu cigarro e volto pro meu quarto. Deito e não durmo mais uma vez. Lembro que não consigo dormir sem beber água pra tirar o gosto do cigarro da boca. Tento me convencer que isso é TOQ, mas não tem jeito, é uma discussão que perco pra mim mesmo. Levanto, bebo água, volto ao quarto e tento, mais uma vez, dormir. Dormiria como um anjo se não fossem aquelas malditas muriçocas. Que raiva eu tenho de muriçocas. Se pudesse pensaria na morte da muriçoca e ela morreria. Isso sem falar no calor dos infernos de um quarto sem janelas nem ventilador. Tem dias que tenho vontade de chorar de tanta desgraça. A única coisa que quero é dormir. Isso é pecado, pelo amor de Deus? O que mais me entristece é que uma desgraça nunca vem sozinha. É igual a espermatozóide, quando solta um sai mais de um milhão. No outro dia antes das 08:00h minha sobrinha já acordou gritando por minha mãe que liga a televisão nas alturas pra assistir Madeline. Só pode ser praga! A peste da menina já acorda acordando todo mundo. Eu não agüento mais aquela voz chata de Madeline chamando pela Srtª Clavell. Me viro e reviro de um lado pro outro da cama mas não tem jeito. Logo meu pai, minha mãe, minha sobrinha já estão todos me gritando. Meu nome só pode ser doce na boca desse povo. Tomara que fiquem com os dentes tudo careados.
Mas voltando ao assunto de não ter o que fazer... Alías, antes de falar sobre a falta de algo pra fazer... Dá pra acreditar que eles, os meus pais, ainda tem a coragem de olhar na minha cara quando acordo e me perguntar por que estou de mau humor? Às vezes até acho que eles perguntam já pra me abusar, mas depois lembro que eles não são de brincadeira, eles realmente falam sério. Respiro fundo, conto até 5 e entro no banheiro pra lavar o rosto, é porque se eu contar até 10 vão falar que é pro tempo passar pra não dar tempo de fazer nada.
Bom, agora eu to com preguiça de terminar esse texto. Vou dormir porque a noite promete.

segunda-feira, 2 de março de 2009

Uma Balada pra gente dançar...

Atrasados. Deslumbrados. Ainda meio eufóricos dos cinco minutos quase corridos do táxi até o bloco. A música dava para ouvir de longe. O som da guitarra e as mãos dos foliões balançando de um lado para o outro faziam o coração bater ainda mais forte e os pelos de todo o corpo arrepiarem. Era uma mistura de agonia e alegria que tomava conta da minha cabeça e me deixava com vontade de sair correndo e gritando.
Comigo estavam minha irmã e Diego, um amigo, conhecido minutos atrás quando pediu para dividir o táxi com a gente. Ele era gaúcho. Estava sozinho no carnaval de Salvador e no bloco também. Foi nosso convidado e mascote. Era engraçado ver seu rosto deslumbrado ao sorrir para todos os lados num questionamento meio que constante: “Que porra é essa meu irmão?” Ele parecia não acreditar que também fazia parte daquela festa. Que estava no carnaval de Salvador, no Bloco Balada ao som do Jammil. Eu também não acreditava que estava ali. Mais parecia o DVD gravado pela banda no carnaval passado. Olhava em minha volta e via que era verdade. A voz de minha irmã me dizendo “A gente ta aqui!” me fazia perceber que o suor escorria pelo meu rosto e o feijão comido minutos atrás ainda estava quente em minha barriga.
Bebia alguns goles de abaíra, fumava mais um cigarro e pulava. Pulava como há muito tempo não pulava. Cantava. Gritava. Parecia entrar em transe. Os calos nos pés adquiridos nas noites anteriores pareciam não existir mais. As pernas mais pareciam próteses inteligentes que respondiam a impulsos nervosos. Os braços, outrora apertados e sufocados pela multidão que se espremiam em pulos compassados, erguiam-se e pareciam pedir para os céus que aquele momento fosse eterno. Que o carnaval não terminasse na quarta-feira de cinzas e aquele bloco não acabasse nas “gordinhas de Ondina”.
Em meio a tantas músicas e empurrões encontrava o rosto de minha irmã molhado por lágrimas e suor. O abraço posterior também me fez chorar ao saber que aquele sonho de muitos anos assistindo Band Folia estava se realizando. Os muitos “Eu ainda estarei lá!” agora já não faziam mais sentido. Eu estava lá. Eu estava no carnaval de Salvador no bloco do Jammil.
A garganta, já quase inflamada de tanta chuva e de tantos gritos, cantava todas as músicas e puxava todo o ar na tentativa de sufocar mais uma lágrima que queria escorrer. Em vão. O aperto, cotoveladas, empurrões de todos os lados e até uma lata de cerveja na testa não eram motivos de nervosismo ou arrependimento. Pelo contrário, faziam parte daquela folia e até acho que sem eles não teriam tanta graça, menos a lata de cerveja na testa, essa doeu bastante e até deixou um galo. Mas não queria saber. Eu estava ali. Eu estava feliz. Pensava na minha mãe, na minha sobrinha, queria que todas elas estivessem comigo ali, compartilhando aquela alegria. Que besteira, elas me tirariam dalí debaixo de tapas. Minha mãe acha que carnaval é festa do diabo (risos).
O tempo ia passando, a cachaça secando, o bloco acabando. Não me lembro de muita coisa que aconteceu. Devo mesmo ter entrado em transe. Apenas flashes me veem à mente. Consigo lembrar de uma certa figura que sempre encontrava exatamente ao lado do trio. Era uma mulher de, mais ou menos, 30 anos, meio gordinha, completamente bêbada. Ela era de Maceió e tinha se perdido dos amigos. Engana-se quem pensa que ela estava preocupada. Junto comigo, pulava e cantava desesperadamente aquelas músicas que demoraram a sair de minha cabeça nos próximos dias. Mas ela se perdeu na multidão, assim como o gaúcho que há muito já não via.
Tuca, o vocalista da banda, anunciava o fim do bloco e cantava uma música lenta (Agora que o verão passou/ Agora que o céu já mudou de cor/ Agora que o carnaval terminou...). Aos poucos ia sentindo minhas pernas e pés. Também sentia um certo incomodo de um dedo cortado em dois lugares e de uma canela sangrando. Não deu tempo. Tudo isso foi esquecido nos segundos posteriores quando o mesmo Tuca desceu no elevador lateral de seu trio e cantou a última canção daquela noite. O aperto mais uma vez se fez presente e o cadaço de meu tênis desamarrado e embaixo de tantos outros tênis me deixava preso ao chão. Pouco tempo. Empurrei o cadaço tênis adentro e pulei mais uma vez, cheguei a tocar na mão de Tuca quando ele deu tchau. “Tchau, I have to go now!”