Começo a escrever sem saber exatamente o quê. O dia não foi dos melhores e a chuva cria um ambiente triste e desconfortante. A mágoa persiste e me remete a lembranças de épocas recentes. Tempos bons, mas sem tempo para tão pouco tempo. Paro para pensar na vida enquanto escuto besteiras na televisão. Ela não dá boas notícias mas é minha única e pior companhia. Penso em pessoas legais que lerão este texto. Elas também não devem ter muito o que fazer. Também devem estar entediadas. Me preocupo em escrever bem. Obedecer pontuações, parágrafos, mas dessa vez não. Dessa vez vou só escrever sem me preocupar com o que pensam ou falam de mim. Que se fodam todos vocês. Paro a pensar num filme triste e em músicas que tenho certeza que foi eu quem escreveu e que, em algum momento, foram roubadas por Bethânia. Um gole de cerveja quente que foi esquecido por horas, um cigarro na mão esquerda e pedaços de cinzas fora do cinzeiro. O ambiente propicia todo e qualquer início de depressão ou crise existencial de um adolescente chato e sem graça. A fumaça incomoda meus olhos e instiga espirros e tosses carregados de catarro de uma gripe mal curada. Que se foda o catarro também. Percebo algumas unhas amareladas e o som de goteiras compassadas no balde que transborda. Meus pensamentos não dão a mínima para elas. Acho que sofro por uma paixão que não é minha e nem sei por quem é. Carência? Não admito que seja, mas seria um perfeito diagnóstico para um ser externo. Gosto de teus cabelos cacheados. Não precisa ficar com receio, eu sou fácil. Também tens bela boca e olhos tímidos. Anota meu número (75 – 8117 0916) nessa folha de papel aí ao lado, me liga. Não sei exatamente se ficarei esperando, mas liga. Também gosto de minha mãe. Não gosto quando ela me pede pra parar de fumar. Que se foda a minha mãe também. Amanhã é aniversário de Lari. Tenho que fazer a barba. Inventar coisas boas para um outro dia de chuva e goteiras.
O dia em que precisei do SUS
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Há 6 anos