domingo, 24 de agosto de 2008

Tesão, ciúme e sono

A dor de cabeça era tremenda. Tinha começado a beber, sozinho,por volta das 11h00 e já passavam das 23h00, agora acompanhado por amigos que iam e vinham em movimentos constantes que me deixavam um tanto tonto. Minha boca fedia aos cigarros das duas carteiras fumadas desde a manhã. Minha língua, áspera e amarelada pelos vários copos de cerveja, procurava entre os dentes os restos de carne de um hamburger mal feito da barraquinha da esquina. Meus olhos, quase fechados de tanta boemia, te encontravam em meio a multidão e me faziam sentir o cheiro do teu sexo. Te comia com eles, menos verdes e mais famintos que antes.
O som não era dos melhores, e contribuía para tornar aquele local menos agradável aos meus instintos. A tua voz me incomodava. Queria apenas te ver, te ter, sem nenhum pudor, sem nenhum pavor. Difícil.

Arrodeado por teus amigos, quase desconhecidos, parecia ser estranho ao teu ser. Era como se tudo que tínhamos vivido até ali tivesse escorrido como as gotas na superfície lisa do meu copo de cerveja, que a esta altura já estava quente. Um gole, outro e outro...
O som já não existia mais. No pequeno palco à nossa frente, alguns homens vestidos de vermelho afinavam os instrumentos musicais da banda que estava por vir. Sentindo o teu desprezo e não sentindo o meu corpo, levantei-me em passos falsos e raivosos tentando caminhar em direção ao palco. Triste.
A banda que começava a se apresentar era uma velha conhecida. As batidas fortes do tambor e percussão deixavam um eco em minha mente e me faziam perceber a minha quase embriaguez. Você chegava e em pé ao meu lado me sorria um sorriso apaixonado e me prometia, ao pé do ouvido, uma noite de sexo inesquecivel. Excitante. Já te sentia de volta pra mim. Aos poucos, conversava comigo e até fazia careta. Sorria.
As batidas africanas me faziam dançar em homenagem ao meu orixá. Os pingos da chuva molhavam meu rosto e me faziam esquecer da dor de cabeça que momentos atrás me atormentava. Faziam também que fosses procurar um abrigo. Me chamastes tantas e tantas vezes para tomar banho de chuva e agora corres? Molhado. Mas eu só queria o teu sexo.
Te olhava em baixo daquela cobertura, se divertia à distância. Eu também. Aos poucos, voltava a minha lucidez. A água cumpria este papel e também me deixava com frio. Sumiste.
Sentado num banco de uma pracinha qualquer, esperava por tua volta. Minha boca tremia e minha pele se arrepiava a cada tragada daquele cigarro molhado pelas gotas que escorriam das folhas da árvore ao meu lado. Com a espera, voltava a pensar nas safadezes que faria contigo naquela noite. Você chegou, fomos pra minha casa. Você levou seus amigos. Risos.
Eu, deitado em minha cama, limpo e excitado, vejo você entrar porta a dentro com tesão no olhar. Deita ao meu lado. Me diz que estou estranho. Ganho um beijo no rosto, um "eu te amo" e um "boa noite". Me abraça e dorme.

2 comentários:

Diego Bricidio disse...

Agora eu entendi o q alguns escritores falam sobre levar o leitor pra cena transcrita...
cara, vc faz isso com maestria, isso ficou mt evidente nesse texto

Ted Sampaio disse...

Que bom que você gostou Bricídio. Por que a experiência não foi muito legal, não. rs
Mas eu gosto de tornar cômico fatos que na maioria das vezes nos irritam. Acho que isso tá bem evidente neste blog.

Abraços