sexta-feira, 4 de abril de 2008

A arte de viver um boteco

Cerveja gelada, copo escorrendo. O cheiro do cigarro contrastava com o odor apodrecido de um carro que coletava o lixo da rua e passava ao nosso lado. Garotos gritando sobre o canto de um passarinho de penas pouco coloridas preso numa gaiola trançada por finos pedaços de madeira e ferro que concorria com o som da radio, carros e motos que passavam pela rua, além de um cortador de cerâmica na casa ao lado.
- Mais uma cerveeeeeja Gel! Gritavam mais uma vez os garotos.
Eram 10h01min da manhã, a rádio anunciava, e aqueles pivetes com farda da escola conversavam bobagens enquanto tomavam cerveja. Assim como eu. Não sabia ao certo o que escrever, enchia meu copo e olhava para o teto repleto de bandeirolas coloridas que pareciam persistir desde a festa do São João passado. Ao fundo das bandeirolas, que balançavam com o vento quente, uma lona preta um pouco encardida. Pequenas plantas, se não estiver enganado um coqueirinho e um feto com folhas verdes e vibrantes, estavam penduradas e presas ao teto.
Paro por mais um instante enquanto encho meu copo. Percebo um córrego de água barrenta passando por baixo da minha cadeira de plástico branco. Não sabia exatamente de onde vinha ou onde ia parar. Talvez num bueiro qualquer espalhado pela rua.
Olhava para dentro do boteco e sentia fome ao ver uma variedade de lanches na vitrine. Nas prateleiras, pacotes de salgadinhos de R$0,10 pareciam implorar para serem comprados, pois tinham que concorrer com uma infinidade de balas e pirulitos a procura de crianças engraçadinhas.
“Tudo que preciso vem de Deus”, estava escrito num pedaço de gesso em forma de coração pendurado na parede. Poderia dizer que a dona do boteco, Gel, era religiosa? Não parecia fazer o tipo daquela mulher forte, decidida, comunicativa, com pochete na cintura e calça marrom que juntava o lixo deixado pelos garotos que bebiam cerveja. A minha cerveja, por sinal, já estava quente.
Tomo um gole grande e encho o copo novamente. O cheiro da bebida parece chamar a atenção de duas moscas que a pouco tinham relações sexuais no pote de flores artificiais. A cor alaranjada de suas pétalas contrastava com o azul marinho da toalha de mesa e dos azulejos brancos que vestiam o chão e metade da parede do boteco, a outra metade, alaranjada, combinava com as flores.
- Me dá um cigaaaaarro Gel! Gritei.
Sara, uma colega que me acompanhava na mesa, pediu outro.
- A cooonta Gel! Tava na hora de voltar. Tinha que deixar a vida boêmia e badalada do boteco para voltar e digitar esta descrição que vos faço. Mais tarde voltarei, se voltarei.

2 comentários:

Anônimo disse...

Sem comentários!!!kkkkkkkkkkkk

Brincadeira, seu blog ta muito legal! Dei uma olhadinha rápida porq tô saindo aqui, mas agora que já sei venho visitar sempre.
bjussss

Ted Sampaio disse...

Valeu Jamille. Já postei um novo texto.